O eclipse do próximo dia 27 vai acontecer para nos trazer consciência sobre nossas questões e não para nos assustar, pois não moramos em cavernas ou no topo das árvores.
Não culpem o eclipse por angústias e dores que podem ter uma tradução astrológica diferente. Quem tem Plutão transitando pelo Ascendente ou Urano por trânsito em aspecto com Lua ou Vênus, ou ainda, progressões de Marte e Mercúrio conjuntas a Netuno, podem estar vivendo sensações e tomando decisões por conta desses aspectos.
Citei aspectos que foram analisados nas últimas consultas, mas poderia citar tantos outros como Saturno transitando pela cúspide da casa 4 e enviando um trino para o Sol…
O eclipse estará tocando em questões que vivemos todos os dias. Nossa integração a grupos maiores (ou pelo menos, simpatia por eles e participação em encontros) e a preservação da nossa identidade própria, independente da geração, grupo político, sindicato ou associação de bairros e clubes.
É melhor exemplificar com situações do cotidiano. Há uns 20 anos atrás, recebi várias pessoas que pertenciam a um grupo enorme de meditação e terapia. Não sei quantas pessoas eu atendi desse grupo, mas atendi várias delas durante uns três anos. O grupo já existia há muito tempo. Até que uma dessas pessoas resolveu sair e foi um “auê”, pois todas as outras se sentiram traídas por uma decisão que ela tomou “sem consultar o grupo”. Ela havia aberto uma empresa, acolhido o pai doente dentro de casa e seu tempo ficou muito curto para qualquer outra atividade. Ela tomou a decisão de sair e apenas comunicou ao grupo. Foi o suficiente para ser julgada e criticada, pois após 16 anos se reunindo duas vezes por semana, ela não teria esse direito. Ela teria que ter consultado o grupo se poderia ou não sair.
Pais de adolescentes sabem muito bem o quanto os adolescentes se esforçam por adquirir uma “identidade de grupo”, pensando, agindo, se vestindo e falando do mesmo modo que toda a tribo. Conforme vamos amadurecendo, começamos a não mais precisar da “identidade do grupo” e nos tornamos capazes de suportar a solidão e chegar a nossas próprias ideias em função das experiências vividas.
Na “Era de Aquário”, a consciência de pertencer a um todo maior é muito importante. É exatamente isso: o ser humano sai do lugar de “dominador” da natureza para estar integrado a ela, chipado às baleias, araras vermelhas, tubarões, ventanias e todo o planeta e quem sabe até conectados com as areias vermelhas de Marte…temos uma consciência de que atitudes individualistas prejudicam esse todo maior e que esse prejuízo retorna para nossa existência individual no cotidiano.
É a consciência de que “estamos todos no mesmo barco” e caem por terra preconceitos, em função de debates e polêmicas através das redes sociais. Todo mundo fala, todo mundo tem voz e cada um de nós escolhe o que quer ver, ouvir e seguir.
Para dar outro exemplo: digamos que você se inspire nos amigos mais próximos e se torne um vegan, movimento que vem crescendo entre aqueles que têm em torno dos 18 anos. Ok. Você é vegan e vai abolir usar roupas de couro e não vai comer nada de origem animal. Em qualquer momento em que você tenha questionamentos sobre esse comportamento, você estará vivendo a questão Leão versus Aquário, que é exatamente o aspecto do eclipse – Sol em Leão e Lua em Aquário. Vai perder o churrasco na casa do pai do melhor amigo da era pré-vegan? Vai abolir de vez o peixinho frito na beira do mar no final de semana? É um exemplo bem tolo, mas dá para entender do que se trata.
Um filme chamado DANTON, de um cineasta polonês já falecido, retrata a Revolução Francesa e todas as suas contradições expressadas no embate entre duas personalidades e egos imensos: Robespierre e Danton. Para além dos ideais republicanos, está a vaidade pessoal das duas figuras principais, que recheiam o filme com cenas em que você não sabe se ri ou chora, pois são muito claras no modo como abordam nossas incoerências. Pregam os ideais de fraternidade e igualdade, mas se ofendem mutuamente, por conta da inveja e da vaidade pessoal de cada um.
O eclipse lunar vai evidenciar que é preciso exercer nossa vontade ao invés de funcionarmos como carneiros que vão seguindo o rebanho. É um aspecto de consciência. Não podemos ficar cegos ou perder a capacidade de crítica apenas porque pertencemos a um determinado grupo ou conjugamos as mesmas ideias com outras pessoas. Não vamos fazer concessões extremas só em função desse sentimento de “pertencer”, que pode ou não ser passageiro.
Uma outra lição desse eclipse é a valorização da prática, da experiência direta com a vida. Nos últimos dias, atendi pessoas que sofrem porque a vida não é como elas gostariam que a vida fosse. De modo geral. Os namorados deveriam se comportar assim. Os clientes deveriam se comportar assado. Os pais deveriam fazer assim. O professor deveria fazer assado.
A vida não está aí para atender a todos os nossos ideais. Se temos ideais, devemos batalhar para que eles possam se tornar realidade e isso exige um foco que não permite perder tempo com o que não vamos conseguir transformar. Talvez se mudarmos a nós mesmos, o nosso “entorno” poderá responder de outra maneira.
Como dizia Goethe, “nada é maior do que a experiência direta com a vida”. Bom eclipse.
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