Nascidos da união entre deuses e humanos, eram metade divinos, metade mortais, acumulando por isso, grandes virtudes e muitos defeitos. Não mereceriam o Olimpo e morreriam como homens comuns, ganhando alguma homenagem e reconhecimento de Zeus, sendo transformados em constelação, se imortalizando nas estrelas. Seus atos deveriam obrigatoriamente ser altruístas, ou seja, um herói jamais poderia agir apenas pela própria vaidade.
Todos eles, sem exceção, colocaram seus dons a serviço dos outros humanos ou dos deuses. Ser herói para os gregos é “estar pronto para servir”. Eles iam além do que um homem comum poderia realizar, mas não alcançavam a condição divina e se causassem um misto de amor, admiração e inveja a algum deus, poderiam (e muitos foram) punidos por esse deus.
Não cultuavam os antepassados. Ao contrário. Pouco sabiam sobre sua origem e outros mitos como o de Moysés ou Édipo, colocam o herói como alguém que tem pouco conhecimento sobre seus pais biológicos, sendo necessário procurar por essa paternidade não somente dentro deles próprios, mas, sobretudo, através da missão que lhes é reservada. James Hillman no fantástico “O Código do Ser” explora bem essa questão. O maior de todos os heróis foi Héracles (Hércules), e também o mais sofrido e punido pela condição de herói.
É pena que a Psicologia tenha “reduzido” a análise de Édipo ao “desejo do filho pela mãe”. O mito de Édipo é considerado pelo filósofo alemão Thorwald Dethlefsen uma fonte de conhecimento e um dos melhores caminhos para a compreensão sobre o desenvolvimento do homem e o sentido da vida de cada um de nós.
O “livrinho” se chama Édipo, uma interpretação psicoterapêutica da tragédia grega. Linguagem mais do que fácil, com a proposta de resgatar o poder curador dos mitos, uma abordagem filosófica sobre a solidão e a busca de uma identidade feita no “corpo a corpo” com a vida.
Enquanto a bola rolava no campo, eu acompanhava o drama dos meninos isolados com o monge-técnico na caverna da Tailândia. Um mergulhador experiente australiano interrompeu suas férias e foi ajudar a socorrê-los. Durante todo o processo, com todas as variáveis contra o sucesso do empreendimento, um dos mais preparados entre os mergulhadores faleceu no longo trajeto de resgate. Isso deixou claro que as dificuldades anunciadas não eram reais, e não apenas para captar os olhares da mídia.
A bola continuava rolando no campo e os meninos começaram a ser resgatados um a um e o que se anunciava como uma tragédia resultou num sucesso de vários heróis dos quais não sabemos o nome, incluindo as crianças pela sua capacidade de resistência, controle e fé.
Mudando de assunto, mas sem mudar tanto assim, li um texto para uma aula de inglês que era uma reflexão sobre os heróis de hoje, considerando os grandes atletas que marcam gols, fazem cestas, derrubam o adversário no chão, saem e chegam na pole position, e como as crianças e adolescentes se inspiram ou imitam esses personagens que tentam, como heróis gregos, ir além das capacidades do homem normal.
O texto, retirado de algum jornal inglês, comentava que as crianças de hoje compram a camisa do time, se informam no Google sobre os jogos, mas assistem sentadas na poltrona, sedentárias e obesas, se entupindo de pipocas, cachorro-quente e hambúrguer, além dos refrigerantes, lógico. Ou seja, muito esforço, só através da TV ou do YouTube. Um texto desafiador, cheio de phrasal verbs, passive voice, me fazendo sentir um herói grego em decifrá-lo, preparatório para o IELTS.
Fiquei pensando nos meninos da Tailândia, no eclipse da lua e nas quedas de Neymar e a pressão psicológica sofrida pelo time brasileiro. Fuçando no YouTube, descobri o depoimento do capricorniano Rivelino (01/01/1946), aos seus 72 anos, velho herói do futebol brasileiro, questionando que pressão insuportável seria sentida por esses garotos brasileiros que ganham milhões de reais/euros, que ficam hospedados em hotéis cinco estrelas e que só recebem manifestações de incentivo e admiração por parte de todos, além de virarem “pop-star”.
Retornei a alguns textos sobre os heróis gregos, textos que deixam muito claro o altruísmo e a necessidade de que o herói tenha ética, moral e valores elevados acima do “homem comum”. Ou seja, herói de verdade, não tem mimimi.
Muita coisa para pensar. Liz Greene tem um livro (muuuuito antigo) sobre o que pode ser considerado o “herói” de cada signo. Qual seria o dragão que cada signo enfrenta. Se Áries enfrenta a competitividade dentro do ambiente de trabalho e tem que se lançar à vida para conquistar o que ninguém conquistou na família, Câncer poderá se deparar com a loucura ou opressão e controle da estrutura familiar. “Astrologia do Destino” continua sendo uma das melhores referências para o conhecimento da Astrologia Mitológica.
Talvez a seleção do Brasil seja um reflexo da nossa juventude de hoje. Quanto mais recebem, mais confusos ou imaturos se revelam diante de tantas possibilidades. Parecem ter receio de enfrentar qualquer tipo de prova. Diante da frustração em relação aos professores ou a dificuldade de comunicação com o primeiro chefe ou cliente, jogam tudo para o alto. Não têm consciência da força que possuem e do que poderiam fazer por si próprios e pelas outras pessoas.
Às vezes acho que a varinha de condão pesada da Fada Necessidade faz falta para o desenvolvimento de cada um de nós. Esforço significa interesse, compromisso, engajamento.
Significa vontade positiva de ir além. Significa que algumas coisas, pessoas ou situações merecem nossa energia e que não queremos ser apenas espectadores de nossa própria história. Rivelino, velho capricorniano sábio, que teve seus momentos de herói, tem toda a razão.
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