O primeiro retorno de Saturno sempre foi assunto comum nas festas e reuniões de amigos. E muitos clientes chegavam na consulta, reclamando que Saturno estava virando a vida deles de cabeça para baixo em torno dos trinta anos de vida.
Saturno não vira a vida de ninguém para baixo. Ele pressiona, tensiona, cobra resultados, cobra esforços e é símbolo de um processo de amadurecimento que não vemos mais nas pessoas que estão na virada dos trinta anos.
As “balzaquianas” do Terceiro Milênio são garotas com ar de 15 anos, algumas inconscientes da própria sexualidade, com experiências afetivas inconstantes e que nem sempre decidiram o que vão fazer “quando se tornarem adultas”. Em algumas a situação gera angústia. Outras dão a impressão que gostariam de esticar essa fase de “Sininho/Peter-Pan” para não terem que fazer escolhas e arcar com os caminhos que escolheram.
Não se trata de criticar toda essa geração que já mereceu críticas de muitos jornalistas ou psicólogos. Mas de repensar se Saturno vai ganhar uma outra interpretação. Quem vai se adequar a quem?
Saturno pode passar a representar outro tipo de energia? Pode ter uma outra função? Ou os “garotos e garotas” de trinta anos vão acabar amadurecendo diante de tantas dificuldades que o mundo à sua volta enfrenta?
Recordo de um filme francês bem antigo em que o protagonista repensava toda a sua vida no dia do seu aniversário de trinta anos. O filme era seríssimo, pesado, noir. Dando-se conta de que sua vida não tinha muito sentido, decidia matar-se. E assim o fazia.
Não estou sugerindo que se matem aos trinta anos. Nem pensar. Citei o filme que de tão antigo esqueci o nome, apenas para mostrar que “em algum lugar do passado”, ter trinta anos podia ser algo “pesado”. Já teria havido tempo para fazer tantas escolhas erradas que o pobre protagonista não tinha outra saída se não pular fora da vida.
É verdade que nem todas as pessoas que estão em torno dos trinta anos, são imaturas. A imaturidade aparece sobretudo nas classes mais favorecidas que foram poupadas de lidar com a realidade da “necessidade”. E, por isto, podem adiar qualquer participação “nesse mundo fora de mim”. E não se sentem convidados para isto.
Já vi rapazes e moças ficarem junto aos pais porque é deles que os pais dependem financeiramente. E não há como sustentar duas casas. Os filhos permanecem junto dos pais porque se tornaram o pilar dos pais no sentido financeiro ou mesmo emocional se existe um parente debilitado.
Mas o que se vê hoje, tema de muitos artigos em jornais e revistas, é o contrário: filhos que ainda são sustentados pelos pais até idade avançada e que, quando se divorciam, retornam a casa dos pais, muitas vezes com os filhos do casamento, buscando apoio financeiro e emocional.
Existe uma geração-sanduíche, que recebeu muito pouco dos pais, fechados, distantes, frios e envolvidos com trabalho, fé ou qualquer outra coisa que não fossem os filhos. Quando se tornaram pais, os filhos são o centro do universo, e tudo se faz pelos filhos. É uma geração corajosa, que muitas vezes perde a cabeça, grita um bocado ou segura o cansaço.
É óbvio que aquele que recebeu muito pouco, deu muito para quem mais ama na vida. E a equação desequilibra, dá um resultado errado.
Voltando à Astrologia, num primeiro olhar, fica impossível acreditar que Saturno possa deixar de reger o processo de amadurecimento, a visão realista da vida, a pressão da feliz entrada no “mundo dos adultos”, pois é na expulsão do paraíso que o filme começa.
Melhor seria os pais voltarem a dar limites e terem uma equação que possa tornar todo mundo mais feliz, deixando que os filhos se tornem adultos no momento certo. Até repensei se na Era de Aquário, pela força de Urano, Saturno se tornasse mais flexível, embalado pelas facilidades da tecnologia ou por alguma droga nova preparada em laboratório que nos deixasse ainda mais anestesiados da dor da vida. Mas depois percebi que é um pensamento sem sentido. Que Saturno perdeu a força, ninguém duvida. Qualquer tipo de autoridade é questionada.
Ao invés desse Saturno mais flexível, o que aparece em alguns casos é a total desordem e em outros, uma infantilização que me faz pensar que aquelas pessoas estão realmente perdendo a chance de viver, protegidas dentro de estufas nas quais podem fazer o que quiserem fazer.
Todo mundo está vivendo mais tempo e o sonho da adolescência pode parecer delicioso. Mas senhores de 78-80 anos que ainda são obrigados a trabalhar para dar conta da necessidade de filhos ou netos que se acomodam no seu esforço e responsabilidade, não pode ser símbolo de uma civilização modelo.