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Chardin, nascido em 1 de maio de 1881 – Os três tipos de felicidade.

Alguns não estão irritados pela partida. O sol brilha, a vista é bela. Mas para que subir mais alto? Não é melhor aproveitar a montanha onde nos encontramos, em meio aos prados e no bosque? E se deitam sobre a grama, ou exploram ao redor, esperando a hora do piquenique. Os últimos, enfim, os verdadeiros alpinistas, não tiram os olhos dos picos que decidiram subir. E seguem adiante.
Os cansados, os brincalhões, os fervorosos. Três tipos de Homem, que cada um de nós traz em semente no profundo de si mesmo, e entre os quais, desde sempre, divide-se a humanidade que nos circunda.

Os cansados (ou os pessimistas), para começar

Para esta categoria de homens, existir é um erro, ou um falimento. Somos mal comprometidos, e por consequência se trata de abandonar o jogo o mais rápido possível. Levado ao extremo e colocado em uma doutrina sábia, esta atitude resulta da sabedoria hindu, pela qual o Universo é uma ilusão e uma cadeia. Mas de modo mais amortecido e comum, a mesma disposição se encontra e se revela em um mar de julgamentos práticos que bem conheceis. ‘Que sentido tem buscar? Por que não deixam os selvagens seu mundo selvagem e os ignorantes a ignorância? O que quer dizer a Ciência? Não se está melhor deitado que em pé? Mortos, ao invés de mentir?’ Tudo isso significa, ao menos implicitamente, que é preferível ser menos que mais; melhor ainda, não ser absoluto.
Os brincalhões (ou os foliões)
Para estes homens da segunda espécie, é melhor ser que não ser. Mas, estejamos atentos, “ser” tem um sentido todo particular. Ser, viver, para os discípulos desta escola, não é agir, mas curtir o presente. Curtir cada momento e cada coisa zelosamente, sem perder nada, e sobretudo sem se preocupar em mudar atitude: nisto consiste a sabedoria. Não se arrisca nada pelo futuro, a menos que para um excesso de refinamento. Não se envenena apreciando o risco pelo risco, para provar o prazer de ousar ou sentir a emoção do medo.
Assim é para nós, de uma forma simplificada, o antigo hedonismo pagão de Epicuro. E não muito tempo atrás, nos círculos literários, esta era a mesma tendência de Paul Morand, ou de um Montherrant, ou mais sutil, de um Gide, pelo qual o ideal da vida é beber sem nunca acabar com a própria sede. Não para retomar a forma, mas para estar pronto a curvar-se mais e rapidamente sobre qualquer nova fonte.
Os fervorosos
Aqui me refiro àqueles pelos quais a vida é uma subida e uma descoberta. Para os homens que formam esta terceira categoria não somente é melhor ser que não ser, mas é sempre a possibilidade – e é a única que interessa – de se tornar alguma coisa a mais. Para estes conquistadores apaixonados de aventura, o ser é inesgotável – não à maneira de Gide, como uma jóia de mil facetas, que se pode girar em todos os versos sem nunca se cansar, mas como um fogo de calor e de luz, ao qual é possível aproximar-se sempre mais. Pode-se importunar estes homens, tratá-los de ingênuos ou achá-los chatos. Mas depois de tudo são eles que nos fizeram e que preparam a Terra do Amanhã.
Pessimismo, e volta ao passado, curtição do presente, impulso para o futuro. Três atitudes fundamentais frente à Vida.
A partir disso, inevitavelmente, ao centro mesmo do nosso problema, eis três formas contrastantes de felicidade:
1) Felicidade de tranquilidade. Nenhum tédio, nenhum risco, nenhum esforço diminui os contatos, limitamos na necessidade, reentramos na nossa concha. O homem feliz é aquele que pensará, sentirá e desejará menos.
2) Felicidade de prazer, prazer imóvel, ou mais ainda, prazer continuamente renovado. O propósito da vida não é agir e criar, mas aproveitar. Ainda menos esforço, portanto, ou aquele tanto necessário para tomar a taça de liquor. Relaxar o máximo possível, como a folha no raio de sol, mudar de posição a cada instante para sentir mais: eis a receita da felicidade. O homem feliz é aquele que sabe sentir o instante que tem entre as mãos no mundo mais completo.
3) Felicidade de crescimento ou de desenvolvimento. Para este terceiro ponto de vista, a felicidade não existe nem tem valor por si mesma, não é outro que o sinal, o efeito e a recompensa da ação guiada. ‘Um subproduto do esforço’, dizia Aldous Huxley. Não basta, como sugere o moderno hedonismo, renovar-se em um modo qualquer para ser feliz. Nenhuma mudança santifica, torna feliz, ao menos que não se haja avançando e em saída.
O homem feliz é aquele que, sem buscar diretamente a felicidade, encontra inevitavelmente a alegria no ato de alcançar a plenitude e o ponto extremo de si mesmo, para adiante.
Teilhard de Chardin
Livro: O Jesuíta proibido – Vida e Obra de Pierre Teilhard de Chardin, Cap. Felicidade”, Giancarlo Vigorelli, 1970.

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