Inspiração pela Lua Nova em Virgem
Onde estará a Vocação? – Tento motivar os jovens a serem proativos, visto que muitas pessoas adoecem dentro de um cenário profissional desmotivador ou sem perspectivas de crescimento. Ou o pior, um cenário profissional tóxico e com assédios diários. Algumas tipologias (brincadeira com os elementos) sobre os jovens que atendo:
O tipo aéreo ou inspirado é aquele que tem sempre grandes ideias, mas não conhece a palavra esforço. É ótimo ter boas ideias, mas espero que não fiquem na mente e que possam ser testadas no mundo material para que sejam úteis a todos. São idealistas e se as coisas não saem do modo como imaginaram, rapidamente deixam de lado e já viajam mentalmente em outra direção. Nunca conseguimos realizar nossos projetos seguindo fielmente o que veio à nossa mente.
Em meus pensamentos posso voltar a ter 17 anos, tornar-me exímia nadadora ou saltar de paraquedas sem medo. No mundo real, estou chegando aos 70, nado como um prego e morro de medo de altura. É sempre preciso fazer pequenas concessões para conseguir se realizar algo. E muitas vezes, a concretização do projeto pode ficar melhor do que a ideia inicial.
Quando comecei a dar orientação vocacional duas consultas me marcaram. Uma das jovens não entendia por qual motivo não obtinha sucesso. Se eu não tivesse feito a consulta e alguém me contasse, eu consideraria piada. Ela tinha certeza que havia nascido para tornar-se uma juíza de Direito renomada. Ela tinha visões e sonhos nos quais se via sentada numa mesa, num tipo de biblioteca com muitos livros ao seu redor. No entanto, já havia largado duas faculdades de Direito porque não suportava o excesso de leituras e o ambiente conservador.
Uma outra jovem fez os pais venderem dois imóveis para conseguirem custear sua faculdade de Medicina. Extremamente arrogante a moça descobriu no primeiro ano da faculdade que não suportava ver sangue e que vomitava diante dos cadáveres a dissecar. Tinha certeza que se tornaria uma grande neurologista, mas procurou orientação e terapia para entender o que se passava. Encaminhei para um colega da psicologia comportamental e descobri dois anos depois, encontrando-a por acaso na rua, que ela havia engravidado do namorado e desistido dos estudos. Nem todos os sonhadores viverão os dilemas relatados acima, mas é preciso que a escolha profissional corresponda ao que gostamos e temos facilidade (ou necessidade) em fazer.
Esses exemplos me mostraram que a imaginação que serve aos escritores, não funciona em outras áreas, pois o hiato entre pensamento e realidade “concreta” era imenso.
Os entusiasmados (elemento fogo) tiram as ideias da mente, colocam no papel e começam os projetos. Mas não espere vê-los daqui a cinco anos trabalhando com o mesmo empenho. Entusiasmados acreditam que um negócio já comece “bombando” e que não existam arestas a aparar. Vão “desentusiasmar” na primeira crise do mercado ou erro cometido. Querem que o início de um projeto independente ou que o desenvolvimento dentro de uma empresa se dê sem rusgas, erros ou dificuldades a superar. Não compreendem que precisam se aprimorar com o tempo e suas vidas será uma sucessão de entusiasmos e tristezas, “ups and downs”, sem conseguirem mostrar o empenho necessário em cuidar verdadeiramente de uma carreira, o que significa paciência, persistência e vontade.
O tipo emocional (elemento água) também não vai muito longe. Pode projetar a figura do pai ou da mãe nos chefes é mau caminho para o cenário de trabalho. Aqui vale de novo mais exemplos. Um rapaz que resolveu sair de sua área profissional para perpetuar a obra do avô, e obviamente que perdeu tempo, energia e todo dinheiro investido. Havia passado boa parte de sua infância na fazenda da família, administrada pelo avô e quando ele faleceu, meu cliente resolveu jogar a bem sucedida carreira de Publicidade para o alto e assumir a fazenda, sem nenhum apoio ou orientação para tal segmento. Não preciso escolher palavras para dizer que nada deu certo além de ter sido lesado por vários funcionários. A família rachou porque seus pais foram os únicos herdeiros que não se dispuseram a fazer o que era o óbvio fazer: vender a fazenda assim que o avô faleceu, enquanto ela era rentável e atrativa para uma boa oferta.
Misturar emoção e trabalho é complicado, embora exista sempre a ideia de que devemos ter paixão pelo que fazemos profissionalmente. Não creio que isso valha para todos, pois o trabalho pode ser o meio ou pode ser o fim. Se existe uma vocação superior à própria vontade da pessoa, pode ser que ela seja mesmo escolhida pelo destino para atuar naquele papel. Mas não creio que a voz de Deus, vocação, se faça ouvir em todas as situações. Hoje vejo jovens paralisados diante de tantas possibilidades, múltiplas escolhas e caminhos. E Deus parece estar rouco ou sem vontade de chamar por eles.
Fazer escolhas é um privilégio e escolher a carreira hoje em dia é poder se debruçar sobre um leque enorme de carreiras, diferentemente do “meu tempo” em que o desejado era optar entre Direito, Medicina e Engenharia. É comum, no relato dos jovens paralisados profissionalmente, embora tecnicamente e intelectualmente preparados, que abordem o “sofrimento da escolha”, pois toda escolha pressupõe renunciar a outros caminhos.
Creio que existem vários pontos a serem abordados: 1 – Sim, com razão, toda escolha pressupõe renúncias a outras experiências. Comprometer-se com um caminho na direção da montanha não levará até as ondas do mar. Então, num ditado curto: não se tem tudo ao mesmo tempo. Quando meu cliente insiste nessa questão, eu faço questão de frisar que escolher é um privilégio. Poder escolher. Muitos não podem escolher, pois precisam começar a trabalhar cedo para contribuir financeiramente dentro de casa, ajudando os pais, dando suporte ou mesmo, pagando a primeira casa própria ou seguro-saúde para eles. E nesses casos, existe a renúncia do privilégio de escolher. Não se pode escolher pensar sobre essa questão. A vontade própria ou a tal vocação, se existir, talvez só possa se manifestar após a aposentadoria.
“Bem-aventurados aqueles que não têm poder de escolha, porque com certeza, deles será o reino da realização profissional, com a fada madrinha dos bem-sucedidos, a Santa Necessidade”.
2 – A responsabilidade pela escolha e suas consequências, o que não deveria ser tão pesado, pois diante de uma frustração com a universidade ou com o cenário profissional, é possível corrigir, redirecionar, não necessariamente com uma nova graduação, mas com cursos e novos estudos, sem tanto sacrifício assim. 3 – No mundo dos “Instas”, a rapidez parece ser uma qualidade. Mas pressa e perfeição não se combinam e na verdade, não existe perfeição nesse mundo material e quanto maior a pressa, pior o serviço fica.
Atendo jovens que com um ano de empresa querem receber promoções que não correspondem ao planejamento de carreira feito para eles e querem ser tratados como “filhões” por chefes que estão com a cabeça cheia de outros problemas e pressões. É fundamental que o ambiente de trabalho seja de respeito e bastante amistoso. Mas nem sempre o chefe vai ter tempo de dizer palavras de agradecimento ou elogios.