O planeta Marte transitando pelo signo de Câncer “suscita” questionamentos sobre o papel da mulher dentro do casamento e construção da família. A “rainha do lar” dos anos 40-50, feliz em produzir bolos para o lanche e se perfumar para quando o marido chegasse em casa, foi substituída por uma mulher independente, consciente do seu poder de trabalho e forte o suficiente para enfrentar discriminações, mas também para ser reconhecida e obter projeção acima de outras figuras masculinas no segmento em que atua.
Na verdade, essa mulher que “nunca trabalhou” ou que “parou de trabalhar” quando as crianças nasceram, não foi uma regra geral. Outro dia assisti um documentário da BBC sobre as mulheres que criavam suas “padarias” durante a Idade Média, já que era o trabalho mais próximo do que elas poderiam dominar na época, mas exigia força física e boa cabeça para fazer a distribuição dos pães e bolos.
Um dos melhores filmes sobre a “nova mulher” é “O Sorriso de Monalisa”, com a Julia Roberts. Simples, divertido e didático. Quando uma cliente minha me pergunta qual a vantagem de ser independente financeiramente e ter um desenvolvimento profissional e cultural, eu aponto algumas:
– ser capaz de romper uma relação desgastada porque não vai precisar implorar pelo depósito da pensão do ex-marido mensalmente (sim, eles podem usar o dinheiro como controle)
– ser uma pessoa rica internamente com seus próprios interesses, conhecimentos, crescimento inclusive no plano espiritual
– ser inspiradora para os filhos
– não querer se realizar através dos filhos – o que pode ser uma tragédia para eles
Eu me recordo da primeira vez que atendi uma mulher em torno de seus 29 anos que me disse (sem culpa): – Não quero casamento tradicional e não quero ser mãe. Falou sem titubear, sem desviar o olhar e sem um pingo de dificuldade.
É cliente minha, advogada e jornalista. Tem uma vida amorosa realizada com um namorido de final de semana, mas não pensa em juntar as escovas de dentes. Hoje, cada um de nós pode fazer suas próprias escolhas. Essa “fala” dentro do consultório foi registrada em 1999. Não antes disto. Antes, era comum que a jovem perto de seus 30 anos ficasse nervosa e culpada por ter que frustrar a mãe e a avó, pois não queria priorizar filhos e sofria uma cobrança semanal no tal almoço de domingo.
Tem que casar, tem que ter o primeiro filho e tem que ter o segundo. Se o casamento entrar em crise, tem que se manter no casamento para salvar as aparências.
Uma cliente que tem um filho do primeiro casamento e que está casada com um rapaz que já traz um casal de filhos do casamento anterior é pressionada e quase ameaçada pela mãe dela, que lhe diz que: “Um dia você ainda vai se arrepender de não ter tido um segundo filho”.
OU, a mãe de uma outra cliente que lhe cobra filhos, desvalorizando o fato de que minha cliente paga seu Mestrado, trabalha e tem um marido que ainda está engatinhando numa nova carreira. A mãe dela diz que “ser mãe” é da natureza de qualquer mulher.
Venho de uma família que, nas décadas de 70-80 considerava e dizia que se uma mulher não pudesse ter filhos é porque era seca como árvore podre e amaldiçoada por Deus. Ouvi isso muitas vezes.
Tem uma história pior: a mãe que quando minha cliente anunciou a separação lhe perguntou: “Minha filha, o que vai ser de você daqui para a frente?” – minha cliente é totalmente dona de sua história de vida e o casamento já se arrastava de forma infeliz para ambos.
É curioso saber que mulheres fortes sempre existiram, mas a História prefere registrá-las de outra forma. Elizabeth I, rainha da Inglaterra, jamais se casou porque sabia que, ainda que o trono fosse sua herança, um homem tornado rei através dela poderia mandar matá-la assim como o pai fez com sua própria mãe e com Catherine Howard.
Mme Tussaud (aquela do museu de bonecos de cera) teve um marido abusivo e tornou-se mestre na arte que lhe foi ensinada pelo tio. Viajou a Europa toda com seus bonecos de cera e manteve financeiramenet dois filhos homens, o ex-marido e a mãe por muito tempo.
Mulheres fortes na História normalmente são chamadas de “temperamentos difíceis”, enquanto que homens fortes são considerados grandes líderes.
A necessidade de estudar o idioma inglês me faz ficar mais perto da História da Europa, mas é possível encontrar vários exemplos de mulheres fortes em qualquer cultura, começando pelo nosso país.
Uma mãe completamente ausente das necessidades dos filhos não trará felicidade para a estrutura familiar. Uma mãe sem “vida própria” pode ser manipuladora, depressiva, triste, angustiada e fazer o filho comentar na consulta dele: “Queria muito que meus pais se separassem porque acho que cada um deles deveria buscar sua própria felicidade”. Essa colocação é bastante comum.
Esse post pode render páginas e páginas. Fica o registro. Estamos numa era de transição. Existem modelos e modelos de mulheres, homens, relacionamentos e famílias. Cada um (uma) escolhe o seu modelo. Não é raro que o casal consiga combinar que a mulher para de trabalhar até que a criança caçula tenha 5 anos. A partir daí ela retoma sua trajetória de autonomia profissional e financeira.
As coisas estão mudando. Muitos cenários novos. Tenho muitas clientes que foram transferidas para fora do Brasil e o marido foi a reboque. Tudo se ajeita num mundo completamente novo que se apresenta para nós.