Sempre achei que as pessoas que podiam “escolher” deviam ser muito felizes. Talvez um dia alguém faça um estudo comparativo entre aqueles que sempre puderam escolher a direção a seguir e os outros que foram empurrados pela vida, ou que rapidamente traçaram rotas de fuga de um determinado lugar e não importava muito para onde estavam indo. Por isso, a vida pegou a rédeas.
No entanto, parece que “escolher” é um ato de tal sofrimento, que aqueles que invejavam quem pôde escolher na vida, acabaram por refletir e até mesmo estudar o tema. Eu sempre pensei que escolher fosse difícil porque implicaria abrir mão de todo o resto que não foi escolhido.
Se você escolher a torta de maçã, não vai comer a de limão. Se escolher conhecer Madri, não vai conhecer Miami, pelo menos, não naquela determinada viagem. Esse é um dado real. Não é à toa que alguns rapazes ou moças que rompem um relacionamento por conta de um novo amor ficam muito divididos, porque não querem, em verdade, perder totalmente a companhia ou a presença do parceiro ou parceira anterior.
Fazendo a pesquisa, descobri algo que jamais imaginei. As pessoas ficam paralisadas diante dos processos de escolha, por conta das suas consequências. Elas querem “acertar”, querem ter a certeza de que o caminho escolhido será o caminho “certo”, elas buscam a PERFEIÇÃO. O tema da perfeição e o tema da escolha estão ligados e eu jamais havia pensado nisso. Sei que muitas pessoas precisam de total segurança em cada passo dado e que recorrer ao astrólogo é mais uma maneira de se firmar na escolha feita, mas havia pensado em segurança e não em “perfeição”.
Escolher é uma dádiva e o frio na barriga é um presente da vida. Estar consciente de que sua ação, vontade e desejo faz parte do roteiro de sua vida é muito bom. Quanto a perfeição, não vai existir mesmo, aliás, nem a total segurança.
Talvez desejos motivados por Marte tenham um bom resultado em curto prazo, mas não tenham continuidade. Escolhas motivadas por Júpiter podem nos levar aos céus, mas poderemos despencar de lá de cima se Saturno não tiver feito algum planejamento anterior. Escolhas uranianas são feitas da noite para o dia e modificam um destino forever.
Parece ser mais confortante pensar que a perda de um grande negócio ocorreu em função de uma cirurgia de urgência do que imaginar que se perdeu a grande oportunidade porque não se conseguiu perceber a chance na experiência. Explicando: se for a mão do destino que me fez passar três dias num hospital com apendicite aguda, posso vir a acreditar que aquela baita oportunidade não estava mesmo no meu caminho. Mas, se demorei pensando demais e desisti porque não achei interessante, então, sou um fracasso, pois o negócio deu muito certo para quem investiu.
Há pouco tempo assisti uma entrevista com um mega empresário da indústria musical. Desses que investem na carreira de novos cantores ainda desconhecidos e que irão lhe render, com o tempo e muitos contratos, um espaço na lista dos homens mais ricos do mundo. O repórter, querendo provocar havia listado uma série de nomes famosos que ele não quis agenciar. E perguntou a ele se ele se arrependia. Ele respondeu do mesmo modo: listando muitos que ele assumiu e que tiveram sucesso. E resumiu em poucas palavras: – “Faz parte da vida, errar e acertar”.
Escolher é construir a vida. E todo mundo tem o direito de sentir um frio na barriga. Mudar de residência, comprar a casa ao lado, trazer ou não a sogra para morar junto, mudar de cidade ou país, seguir num outro segmento profissional, dar o casamento por encerrado, tirar ou colocar o DIU, começar ou adiar a dieta, retomar ou não a amizade e por aí vamos. Não é tão simples como pedir a pizza de mozzarella ao invés da pizza calabresa.
E é exatamente a questão da escolha que enche os consultórios dos astrólogos. A escolha da vocação, que implica um investimento de tempo e dinheiro em quatro ou cinco anos de faculdade, deixa qualquer família zonza. No Brasil, como ninguém conhece curso profissionalizante, você empata 3 anos de “colegial” + 4 ou 5 de universidade + 1 ou 2 de pós-graduação = mais ou menos 8 anos (ou mais) para formar alguém que vai começar ganhando pouco se não tiver feito inglês em paralelo. Fazer um curso profissionalizante em uma das áreas imagináveis poderia ajudar a escolher, pela prática do assunto. Seria uma boa maneira de ajudar a escolher, minimizando sofrimento, angústia e gastos dos pais.
Continuar ao lado da relação que parece perfeita com um pequeno senão: ele não quer ter filhos. Ou aceitar aquele outro que é meio chato, mas considera a possibilidade de ter dois pimpolhos em pouco tempo. Relações intensas, profundas, curtas e inesquecíveis? Ou projetos de vida a dois para um futuro distante?
O astrólogo pode ajudar, com base no mapa astral individual, observando, junto com o cliente quais suas melhores chances. Algumas pessoas estão tão distanciadas de si mesmas que a leitura do mapa não é uma confirmação de quem ela é, mas uma revelação, algo quase mágico para ela.
Para outras, é uma experiência objetiva e ela quer ir direto ao que interessa: topa o aumento do chefe para permanecer na empresa apesar de já estar exausta da função que realiza, ou pula para a startup que oferece risco e adrenalina, sendo por isso mesmo, mais interessante? Com três filhos pequenos, a segurança pesa. Se a esposa for bem colocada, ela o empurra para a novidade! Se ele for solteiro e jovem, mais fácil resolver se jogar no “novo”.
Escolher é viver. A vida pode escolher por nós e quem perdeu parentes durante o Covid sabe muito bem disso. Tive clientes que perderam pai e mãe no prazo de 20 dias. Não estava nos planos.
O que precisamos mudar é o medo da “escolha consciente”. Porque não existe erro e não existe outro caminho. É entender que teremos motivos para comemorar de qualquer modo.
Se os resultados da escolha forem positivos, então tudo “deu muito certo”. Se os resultados da escolha forem negativos, também “deu muito certo”. De um modo ou de outro, é a vida que está dando certo, é ela que é perfeita no modo como nos conduz ou nos abandona à própria sorte, melhor, à própria escolha. Ela está por detrás de tudo, em todos os momentos, seja quando ferozmente rabisca um novo roteiro e rasga o nosso rascunho. Ou quando nos deixa pensar que somos nós os verdadeiros escritores de nós mesmos.
Perfeição? Talvez no plano dos anjos, mas somos humanos, indivíduos, ou como ouvi ontem de um acadêmico: infovíduos, palavra nova para o homem do Terceiro Milênio, que não tem que ter medo da sua liberdade de ser, pensar, agir e escolher.